sábado, 25 de outubro de 2008

todo mundo é um mundo

barcelos é um executivo de sucesso e luta takendô. isabela me falou dos pormenores de seus nus artísticos. lana é ninfomaníaca e trabalha voluntariamente há dois anos em um abrigo para velhinhos. alberto joga futebol de botão profissionalmente e escreve poemas. carlos tem a gravação dos 15 minutos de silêncio pela morte de john lennon. ele a ouve diariamente. zé dá aulas de inglês para crianças infernais e estuda esperanto com um professor impaciente. jorge não sai de casa sem alimentar seus dezenove papagaios e por isso abre mão da sua hora de almoço. pereira já queimou cinco chuveiros por tomar banhos muito quentes. sara faz sexo com animais ortodoxamente. joana é retro mas gosta de trance. rafael só bebe uísque doze anos com energético quente. nádia já foi a trinta e cinco shows do bob dylan. emerson é gay. idemar é machista. cláudia é fissurada por jujubas amarelas. marcos é pastor e come a empregada. nara canta e quer salvar o mundo. mariana faz mergulhos em mares profundos mas não gosta de piscina com água gelada. cleide é viciada em atari desde o seis anos. andré é casado com uma harley davidson e a trai de vez em quando com moças loiras. todo infinito cabe dentro de um segundo. todo mundo, sem exceção, é um mundo.

(scapin)

domingo, 12 de outubro de 2008

ensaio sobre a dor

descobri que estou vivo.
a mesa dói. os livros doem.
as músicas todas parecem chorar.
músicos e poetas nunca carregam lenços.
os lenços doem mais.
o telefone dói.
a cama dói e asfixia.
ainda estou vivo.
como é cruel estar vivo e doer.
a chuva que cai no telhado
e não sob a grama verde onde estão as margaridas.
as margaridas doem.
cada pétala a murchar de dor.
o pólen está morto
como as flores futuras.
o futuro é o que mais dói.
é por ele que doemos hoje.
a dor e a doação.
sem oração dói mais.
doer sem deus. amputar sem anestesia.
deixamos o amor doer para que ele seja grande pro resto dos dias.


(scapin)

sábado, 11 de outubro de 2008

todo mundo tem marca de vacina

todo mundo tem marca de vacina. a que mais me chamou atenção até hoje foi sem dúvida a da minha prima. lembro-me especialmente dela. carinhosamente arredondada. que me fazia pensar que não era a conseqüência mas sim a causalidade artística do artifício médico. as marcas de vacina variam como as luas. mais abertas. mais fechadas. Com mais ou menos relevo. Mais ou menos nuas. todo mundo tem marca de vacina. mas a da minha prima era a mais bela. nem me lembro mais da dor que suportei para ter a minha. só que hoje tudo dói mais. ao perceber que não sou vacinado contra ela.

(scapin)

domingo, 5 de outubro de 2008

sobre pés

de manhã
enfiar os pés na grama
enfiar os pés na lama
e sujar
enfiar os pés na terra
descansá-los na janela
sem pensar
enfiar os pés em Deus
em paz pra sonhar
enfiar meus pés nos teus.

de manhã
enfiar os pés na água
enfiar os pés na tábua
e sumir
enfiar os pés na areia
sonho de toda sereia
sem pensar
enfiar os pés em Deus
em paz pra sonhar
enfiar meus pés nos teus.


(scapin)