quarta-feira, 29 de setembro de 2010

canção dos rumos

como menina morena
faz-me de ti teu refém
se nossas covardias são gêmeas?
como menina morena
faço-te pra mim um harém
se nunca encantei tuas fêmeas?

como menina morena
amansa-me com teu desdém
desdenha-me com tua escuta
como se as paixões fossem sãs?
como menina morena
faço-te pra mim um harém
se nunca brinquei tuas putas
ou lambi tuas cortesãs?

como menina morena
seria eu só alguém
se hoje me basta ser todos
estes homens que tu queres?
como menina morena
faço-te pra mim um harém
se nunca toquei com meu corpo
nenhuma de tuas mulheres?


(OS)

sábado, 4 de setembro de 2010

poema incompleto

queria morrer no mesmo dia
em que nasci

anos completos
amores aceitos
cada poema lido em sequência
verso por verso
sem desvio
lençóis quando sol
edredons para o frio

mas o que fazer do último pedaço do bolo
o que fazer da última noz
sobre o último pedaço de bolo
o que fazer do refrão
que não encantará
o que fazer da carta de amor
que virá depois do amor
o que fazer do álcool
que insistirá no copo
o que fazer do livro
que perpetuará o marca-página
o que fazer do beijo
que não desaguará em transa
o que fazer da transa
que não desaguará

queria morrer
no mesmo dia em que nasci

mas sou de restos
sou de migalhas
sou de retalhos
sou de farelos

ser
é o que me sobra.

(OS)