segunda-feira, 20 de julho de 2009

respingos

como é difícil separar dois líquidos.
pobres humanos.
que nasceram com o fardo
de serem quase que só água.

(scapin)

imunidade poética

prenda o poeta.
o verso é culpado.
prenda ao poeta enjaulado!

(scapin)

flerte

pisco o olho.
você sorri ao ler o que vi.
será que meus versos te namoram?

(scapin)

domingo, 19 de julho de 2009

queda livre

só se jogue do alto do prédio. se portar um bom pára-quedas. ou se lá em baixo é um breu. só se jogue do alto da torre. se tiver um bom controle. pra pousar no beijo meu. se jogue no lago. na armadilha. com alguém do lado. caia numa trilha. o tombo termina sempre em pedra ou em mar. se jogue num rastro. na cachoeira. pule do penhasco. eira nem beira. o tombo termina sempre em pedra ou em mar.

(scapin)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

poema inabalável

as palavras em francês
conhecem sua pronúncia inabalável
e os caminhos inabaláveis do seu sorriso.
o seu sorriso remonta o seu sarcasmo.
ambos inabaláveis como seu rosto lindo.
eles não dependem da cor do céu.
mas sua concepção inabalável
que apóia os braços incertos
que assopra o chá que é quente
que conduz os sonhos na cama
que engole a saliva que é pura
esta sim!
será pra sempre inabalável!
até que por um suspiro totalmente inabalável
se abale
inabalavelmente.

(scapin)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

somtidos

Devo minhas composições a um amigo querido.

Quando resolvi comprar meu primeiro instrumento musical não sabia o que era nota, tom, ritmo, escala, acorde ou qualquer outra palavra que pudesse estar em um dicionário de música. O cavaquinho era o escolhido. Os chorinhos eram paixões de infância.

O instrumento musical nasceu do tamanho de um bebê.

As aulas começaram logo depois e a primeira grande surpresa estava no olhar do professor. De apenas 15% da visão periférica era o que seus olhos podiam se gabar. Quando não se vê, se ouve. E logo aprendi que os sons, assim como as pessoas, se combinam. As convenções estão lá, mas esbarram na abstração completa do som, tão avassalador quanto um sentimento. Os sons amam e os sons choram. E fugindo às regras os sons podem se apaixonar.

Meu professor me ensinou a enxergar o som. E só assim eu pude ouvir bem alto o rosto rosado de uma menina envergonhada, pude ouvir bem alto as cores sem fim de um vestido que samba, pude ouvir bem alto o desenho que o corpo faz no pano.

As palavras são vistas. A visão é dita. Os dizeres, ouvidos.

Quando meu professor não estava, tinha o amigo. Este me dizia que seu conhecimento realmente verdadeiro era saber o nome de todos os Rolling Stones e de pronunciar com perfeição as difíceis fonéticas de “world” e “massachussetts”. Falar palavras difíceis é como retirar sons difíceis de um instrumento.

Meu amigo cantava serestas durante a aula. Todas elas com cinco ou seis vezes a minha idade. Mas elas eram novas para meus ouvidos, e assim comecei a entender a poesia da música, a palavra que é som, o som que é palavra, e como cantar pode fazer bem para uma vida.

Hoje meu amigo se despediu dos dedos no cavaquinho. Sem choro. Ficaram seus risos que são sons, seus gestos que são sons, seus ideais que são sons, sua simplicidade que é som, sua generosidade que é som, seu cavalheirismo que é som e sua inteligência que é som. Meu amigo assim como todas as coisas que são inesquecíveis, hoje se transformou numa doce e presente melodia.

(scapin)

Homenagem ao Lary, amigo e meu primeiro professor de música que faleceu hoje (13/07/2009) em Goiânia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

twittações

o disco novo, os suspiros e os surtos agora no twitter.

quem quiser acompanhar fique à vontade: @octavioscapin