quarta-feira, 29 de setembro de 2010

canção dos rumos

como menina morena
faz-me de ti teu refém
se nossas covardias são gêmeas?
como menina morena
faço-te pra mim um harém
se nunca encantei tuas fêmeas?

como menina morena
amansa-me com teu desdém
desdenha-me com tua escuta
como se as paixões fossem sãs?
como menina morena
faço-te pra mim um harém
se nunca brinquei tuas putas
ou lambi tuas cortesãs?

como menina morena
seria eu só alguém
se hoje me basta ser todos
estes homens que tu queres?
como menina morena
faço-te pra mim um harém
se nunca toquei com meu corpo
nenhuma de tuas mulheres?


(OS)

sábado, 4 de setembro de 2010

poema incompleto

queria morrer no mesmo dia
em que nasci

anos completos
amores aceitos
cada poema lido em sequência
verso por verso
sem desvio
lençóis quando sol
edredons para o frio

mas o que fazer do último pedaço do bolo
o que fazer da última noz
sobre o último pedaço de bolo
o que fazer do refrão
que não encantará
o que fazer da carta de amor
que virá depois do amor
o que fazer do álcool
que insistirá no copo
o que fazer do livro
que perpetuará o marca-página
o que fazer do beijo
que não desaguará em transa
o que fazer da transa
que não desaguará

queria morrer
no mesmo dia em que nasci

mas sou de restos
sou de migalhas
sou de retalhos
sou de farelos

ser
é o que me sobra.

(OS)

sábado, 15 de maio de 2010

novo ensaio sobre a dor

já achei que injeção
fosse a dor maior do mundo.
depois um beliscão,
um chute no saco,
um fora da menina do colégio
que não entendia
que tudo o que eu queria
era um amor bem dolorido.
nenhuma dor tem sucesso
na missão de ser a maior
na análise dos sentidos.

já achei que doer sem deus
fosse amputar sem anestesia.
mas doemos sem amigos.
doemos sem irmã.
doemos sem pai.
doemos sem mãe.
doemos com a sobra,
vazia.
deixemos o amor doer.
deixemos.
para que ele continue grande
para o resto de nossos dias.

(scapin)

terça-feira, 13 de abril de 2010

todo mundo morre

todo mundo morre. uns morrem de fome. outros de sede. uns de tombo de moto. outros morrem na rede. todo mundo morre. de bala perdida. sexo demais. de cutucar ferida. morrem de amor. de câncer. de aids. morrem de amor. de medo. demais. morrem de amor. todo mundo morre. todo dia. morre-se em silêncio. com canto. com prece. com badalar de sino. todo mundo morre. como podia morrer ser o maior fardo do destino.

(scapin)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

edredom

acordar pra te pensar
penso que acordei pra ver
vejo o que não tem falar
falo pra não entender
entendo o que vem com mel
e teu doce é bom demais
que chega assubêia, rir
rio pra me desaguar em você

acordar pra te brincar
brinco em cada traço teu
todos querem me pirar
piro pra não entender
entendo o que o olfato diz
e teu cheiro é bom demais
que chega assubêia, rir
rio pra me desaguar em você.

acordar pra te provar
provo de inferno e céu
nuvem pra nos explicar
fogo pra não entender
entendo o que a pele tem
e teu corpo é bom demais
que chega assubêia, rir
rio pra me desaguar em você.

(scapin)


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

cara nova

2010 demorou pra dar as caras por aqui. mas mesmo tardiamente veio com uma bela gravura do sempé. um dos meus desenhistas mais queridos. au revoir!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

sobre o vício

o que te alimenta?
tem quantas calorias?
vale por quantos dias?
o que te alimenta?

tem ferro, cálcio e cheiro?
se pega numa arvore?
ou se compra com dinheiro?

o que te alimenta?
o que te atormenta?
fome ou bucho cheio?

o que te alimenta?
o que te atormenta?
se torna seu recheio?

(scapin)