terça-feira, 8 de dezembro de 2009

recado

aos amigos que passam por aqui aviso que estarei rodando por ares europeus até o mês de março de 2010. para músicas e boas histórias. prometo continuar postando os poemas sempre que der.

AbraçOS

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

andar

os azulejos mais brancos,
a grama que cresce a casa pra fora,
o fundo do mar, da piscina,
as pedras portuguesas que te levam embora,
o tapete persa que conduz
aos lençóis onde voam os delírios,
e o meu peito,
se compreendem.
todos já foram encantados
por seus pés nús.


(scapin)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

sobre o fôlego

hoje o mar se esqueceu de sair

e nada de verdade
e nada de mentira
e nada tem só cara
e nada no lugar

e nada tem um jeito
e nada com os braços
hoje não tem abraços
e nada no lugar

hoje o mar se esqueceu de sair

e nada de errado
e nada de correto
e nada só de um lado
e nada no lugar

e nada vale tudo
e nada de perfeito
viver é este feito
com nada no lugar.


(scapin)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

casos marítimos

estava eu dentro do mar.
e a moça na areia.

ela tinha a seus pés todos os grãos
que sonhavam ter a cor de sua pele.
o branco da areia.
apenas uma cópia barata de sua porcelana original.
o branco da areia.
de grande valia para acalmar o roxo da ausência.

gritava eu.
chamando a moça para entrar no mar.
e com passos lentos,
bem lentos,
a moça se permitiu.
se permitiu mas com um cuidado sincero.
recomenda-se entrar devagar no mar.
como pregam as avós.
os choques térmicos também possuem voltagem.

seu pai
quando a moça era menor do que já é,
desenhava com caneta bic
uma linha em sua perna.
aviso para que ela não se esquecesse que o mar
tem limite.
eu, menino esperto,
espero que o mar e o sal,
vençam o risco azul
na pele da moça.
aí sim.
pegá-la pela mão,
e por um capricho,
nos afogarmos,
no infinito de nossas peles.

(scapin)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

downloadFREE

olá amigos. além dos poemas que já venho colocando há 2 anos por aqui, agora as postagens também trarão notícias sobre meu novo álbum, os shows e coisas relacionadas à aventura musical e a sociedade dos poetas vivos!

a primeira notícia é que o disco "nunca converse com estranhos" já está disponível pra download. a proposta é que todas as pessoas tenham acesso às músicas do álbum. baixem! ouçam! e se gostarem divulguem! o link para o download ficará permanentemente aqui no blog.

« O disco Nunca Converse Com Estranhos surgiu após dois anos de intenso trabalho de composição e de concepção de arranjos e formas que as músicas deveriam ter. O nome veio de um poema que tinha escrito há alguns anos e que naquele momento e agora sintetiza uma avalanche de símbolos que gostaria de dar para este primeiro álbum da minha carreira como compositor. A estranheza do nome foi buscada em todo momento, na capa do disco, no projeto gráfico e nos vários penduricalhos e perfumarias sonoras que as pessoas encontrarão quando ouvirem as canções. Esta busca por uma sonoridade própria, sonho de todo músico, contou com talentosos parceiros que, em seus instrumentos e maneiras, colaboraram ativamente para este produto final. A eles eu devo sinceros agradecimentos. Desta maneira, após agradáveis dias em estúdio, chegamos neste mundo tão meu e tão sonhado, em que minhas músicas ganharam exatamente a cara com que as enxergava nos meus pensamentos atentos e utópicos. Uma música, durante seus minutos de duração, é responsável por tantas sensações que embevece o fato de poder causá-las. Por isso busquei neste disco e sempre tenho buscado em minhas músicas, as sensações mais completas e cheias de peculiaridades e detalhes possíveis. Tento dessa maneira me encontrar com todos os estranhos do mundo através delas. » Octávio Scapin

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

poema da filha caçula

andam falando que a moça é mimada
e estes que falam são seres de tino.
mas vejam os olhos, vejam as sardas,
não seria ela própria, o mimo?

(scapin)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

respingos

como é difícil separar dois líquidos.
pobres humanos.
que nasceram com o fardo
de serem quase que só água.

(scapin)

imunidade poética

prenda o poeta.
o verso é culpado.
prenda ao poeta enjaulado!

(scapin)

flerte

pisco o olho.
você sorri ao ler o que vi.
será que meus versos te namoram?

(scapin)

domingo, 19 de julho de 2009

queda livre

só se jogue do alto do prédio. se portar um bom pára-quedas. ou se lá em baixo é um breu. só se jogue do alto da torre. se tiver um bom controle. pra pousar no beijo meu. se jogue no lago. na armadilha. com alguém do lado. caia numa trilha. o tombo termina sempre em pedra ou em mar. se jogue num rastro. na cachoeira. pule do penhasco. eira nem beira. o tombo termina sempre em pedra ou em mar.

(scapin)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

poema inabalável

as palavras em francês
conhecem sua pronúncia inabalável
e os caminhos inabaláveis do seu sorriso.
o seu sorriso remonta o seu sarcasmo.
ambos inabaláveis como seu rosto lindo.
eles não dependem da cor do céu.
mas sua concepção inabalável
que apóia os braços incertos
que assopra o chá que é quente
que conduz os sonhos na cama
que engole a saliva que é pura
esta sim!
será pra sempre inabalável!
até que por um suspiro totalmente inabalável
se abale
inabalavelmente.

(scapin)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

somtidos

Devo minhas composições a um amigo querido.

Quando resolvi comprar meu primeiro instrumento musical não sabia o que era nota, tom, ritmo, escala, acorde ou qualquer outra palavra que pudesse estar em um dicionário de música. O cavaquinho era o escolhido. Os chorinhos eram paixões de infância.

O instrumento musical nasceu do tamanho de um bebê.

As aulas começaram logo depois e a primeira grande surpresa estava no olhar do professor. De apenas 15% da visão periférica era o que seus olhos podiam se gabar. Quando não se vê, se ouve. E logo aprendi que os sons, assim como as pessoas, se combinam. As convenções estão lá, mas esbarram na abstração completa do som, tão avassalador quanto um sentimento. Os sons amam e os sons choram. E fugindo às regras os sons podem se apaixonar.

Meu professor me ensinou a enxergar o som. E só assim eu pude ouvir bem alto o rosto rosado de uma menina envergonhada, pude ouvir bem alto as cores sem fim de um vestido que samba, pude ouvir bem alto o desenho que o corpo faz no pano.

As palavras são vistas. A visão é dita. Os dizeres, ouvidos.

Quando meu professor não estava, tinha o amigo. Este me dizia que seu conhecimento realmente verdadeiro era saber o nome de todos os Rolling Stones e de pronunciar com perfeição as difíceis fonéticas de “world” e “massachussetts”. Falar palavras difíceis é como retirar sons difíceis de um instrumento.

Meu amigo cantava serestas durante a aula. Todas elas com cinco ou seis vezes a minha idade. Mas elas eram novas para meus ouvidos, e assim comecei a entender a poesia da música, a palavra que é som, o som que é palavra, e como cantar pode fazer bem para uma vida.

Hoje meu amigo se despediu dos dedos no cavaquinho. Sem choro. Ficaram seus risos que são sons, seus gestos que são sons, seus ideais que são sons, sua simplicidade que é som, sua generosidade que é som, seu cavalheirismo que é som e sua inteligência que é som. Meu amigo assim como todas as coisas que são inesquecíveis, hoje se transformou numa doce e presente melodia.

(scapin)

Homenagem ao Lary, amigo e meu primeiro professor de música que faleceu hoje (13/07/2009) em Goiânia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

twittações

o disco novo, os suspiros e os surtos agora no twitter.

quem quiser acompanhar fique à vontade: @octavioscapin

terça-feira, 16 de junho de 2009

lidia

o decote preto desviara a atenção.
mas no segundo olhar
a medalha de são jorge conseguiu aparecer entre os seios
e a pele impiedosa de uma mulher linda.

ela usava uma medalha de são jorge.
são jorge talvez seja o santo mais respeitado pelos ateus.
e ela estava vestida com as roupas e as armas de jorge.
para que seus inimigos tenham mãos e não lhe toquem.
para que seus inimigos tenham olhos e não lhe vejam.
e nem mesmo pensamento eles possam ter para lhe fazerem mal.
ela usava uma medalha de são jorge sobre sua pele impiedosa.
e tinha mãos para me embriagar com seu toque.
e tinha olhos intrépidos para ver meus olhos tenros.
e tinha olhos tenros para ver meus pensamentos proibidos.
e tinha o sorriso imaculado,
que promete todos os pecados da fêmea.
não se reverencia uma mulher como se faz com os santos.
não se ajoelha diante de uma mulher.
pega-se a lança.
deixa-se o medo.
derruba-se o dragão.

(scapin)

domingo, 17 de maio de 2009

das manhãs

as manhãs nascem
quando sua saia dança com seus joelhos 
e se jogam nos braços de minhas pernas. 
as manhãs dançam.

as manhãs não obedecem a natureza  
nem o curso das certezas. 
as manhãs nascem 
com ou sem o sol 
quando seu abraço se desarma.
as manhãs dançam.
e eu amanheço quando danço em você.
o meu corpo não é o seu corpo.
mas como explicar isso para o perfume das coisas? 
as manhãs têm o cheiro da conversa das peles. 
e os dias têm o cheiro das manhãs. 
não é a tarde nem a noite que dão vida aos dias. 
então como farão eles 
sem nossas manhãs 
para ensinar seus primeiros passos?

(scapin)

terça-feira, 12 de maio de 2009

cinco da tarde

não me pareceu simpático
o mar no primeiro encontro.
as amendoeiras
e suas amizades com as sombras
me cativaram primeiro.

por isso ganhei a atenção do mar.

o mar não conversa com quem o invade.
engole.
o mar faz prosa com os coqueiros
com as gaivotas serenas
com a areia que ele não toca
e conta piadas ao sol.
não serve-se água com açúcar
quando o mar está aflito.
sou da espécie dos rios.
no mar deságuo a razão
e termino
infinito.

(scapin)

sábado, 11 de abril de 2009

post-it

tudo o que quero agora
é um fim pra este verso.
mas quando o final me ignora
não termino. começo.

(scapin)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

clave de ferro

todas as músicas
esperam seu gole
no meu copo de vinho.
o músico espera.
sempre apresenta sua obra
antes de sua manobra.
e tarda.
as estrelas morrem
por esse tardar.
olha-se para o céu
e só basta meio samba
para a estrela estar nos braços
de outra dimensão.
todas as músicas 
esperam seu gole
no meu copo de vinho.
até me embriagar
e sujar minha camisa,
sozinho.

(scapin)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

as laranjas

Assim como meu pai, meus tios e meus primos, aprendi a descascar laranja com minha avó. O ritual sagrado da mesa do almoço tinha seu final com a chegada da grande bacia de laranjas. Doces, azedas ou as raríssimas seletas, carinhosamente chamadas por meu avô de pomos d’ouro. Junto com as laranjas vinham os pratinhos e as faquinhas. Tínhamos à nossa frente o necessário para a explicação de todas as coisas do mundo. E minha avó nos conduzia a essas descobertas.

A faca pontuda e afiada me dava a sensação e a responsabilidade de um adulto, a mesma que temos quando somos autorizados a escrever de caneta no colégio, deixando de lado o lápis com a tabuada em seu corpo. Minha avó sabia a tabuada de maneira elegante. Minha avó não me deixava ganhar partidas de xadrez. Era profundamente prazeroso receber xeques-mate com a elegância de minha avó. Todas as palavras estavam elegantemente combinadas para chegar até mim. Só minha avó descascava laranjas com aquela elegância.

Pega-se a laranja com uma mão. A faca com a outra. Sou canhoto. Logo invertíamos as funções de nossas mãos. A faca era colocada com as serras voltadas para o sentido contrário ao corpo. Roda-se mais a laranja e menos a faca. Sua casca sai num grande caracol gigante, que, claro, era quebrado em várias partes. Não por minha avó. Mas por todos os outros. Uma das primeiras lições que aprendi foi que ter sucesso com a laranja, retirando a casca por inteiro, era sinal de que já estava apto a casar. Casar ainda não era algo bem definido em minha cabeça. Na verdade nem sabia o que isso realmente poderia significar. E talvez até hoje não saiba. Retirar a casca por inteiro e sem feridas, essa sim a maior glória, era o desafio de sempre. Pouco me importava com a simpatia do casamento. E buscava cada vez menos feridas em minhas laranjas.

Com a laranja descascada vinha o grande dilema. O mesmo dilema que temos quando terminamos de construir, após uma tarde inteira debaixo do sol, o nosso próprio castelo de areia. Os castelos de areia, assim como as laranjas descascadas, não existem para terem vidas longas. E a maneira de retirar essa vida é de extrema importância. Assim, podíamos cortar a laranja com uma tampinha, duas tampinhas, com um bico, meio a meio, em gomos ou como a imaginação pudesse conceber em poucos segundos de reflexão.

Sempre destruí castelos de areia chutando-os.

Sempre gostei de cortar a laranja com uma tampinha. Chupa-se primeiro a tampa. Depois todo o corpo da laranja. A tampinha da laranja é como o primeiro beijo na menina do colégio. Dele saberemos o gosto que toda uma vida pode ter. Com ele tentamos evitar frustrações futuras. Ou alavancar as esperanças dentro do infinito feminino.

Com minha avó aprendi que não basta ser só homem. O homem precisa deste infinito que só a mulher possui. A mulher esconde toda a poesia do universo. Minha avó tinha apenas duas mãos, e todo o sentimento do mundo. Até hoje tento descascar laranjas como minha avó. Mas ainda preciso de um ponto de apoio. Minha avó descascava laranjas com a maestria de quem já retirara todas as cascas dos mistérios humanos.

(scapin)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

gravidade

o sol conhece bem
as moças de pele morena
mas uma moça pequena
fez brilhar os olhos solares
e o sol egoísta encantado
quis aquela visão só pra ele
a moça pequena tão leve
viu a terra gravitando ao seu redor 
sua pele não ficaria mais morena
seus cabelos voariam para os ares
e o sol enfim descansaria um pouco
do ofício de nos manter vivos.

(scapin)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

teoria das cordas

nós 
desaguar
eu
desatar 
nós

(scapin)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

opção aos motéis

namorada
pode ser lida
na morada.

(scapin)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

sobre a lembrança

as pegadas estão no meu corpo
gatas tigresas leoas 
que pisaram na areia
ou na terra molhada
as pegadas estão no meu corpo
e por serem da mesma espécie
as fêmeas não se diferenciam nas pegadas
as pegadas estão no meu corpo
e não são elas que te trazem
para meus olhos bêbados de vinho
as marcas da mulher que forma o homem
não estão na pele das pegadas
e sim
na pele dos carinhos.

(scapin)

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

dois mil e nove

aos que rezaram no natal
aos que comeram o peru
aos que estouraram espumantes
aos que tomaram guaraná jesus
aos que guardaram três folhas de louro na carteira
aos que foram para ilhas particulares
aos que foram para a casa da sogra
aos que não perderam o especial do roberto carlos
aos que estouraram fogos
aos que beijaram a namorada à meia-noite
aos que transaram no mar
aos que pularam ondas
aos que lêem as coisas por aqui
um 2009 cheio de saúde, música e poesia.