domingo, 12 de outubro de 2008

ensaio sobre a dor

descobri que estou vivo.
a mesa dói. os livros doem.
as músicas todas parecem chorar.
músicos e poetas nunca carregam lenços.
os lenços doem mais.
o telefone dói.
a cama dói e asfixia.
ainda estou vivo.
como é cruel estar vivo e doer.
a chuva que cai no telhado
e não sob a grama verde onde estão as margaridas.
as margaridas doem.
cada pétala a murchar de dor.
o pólen está morto
como as flores futuras.
o futuro é o que mais dói.
é por ele que doemos hoje.
a dor e a doação.
sem oração dói mais.
doer sem deus. amputar sem anestesia.
deixamos o amor doer para que ele seja grande pro resto dos dias.


(scapin)

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