terça-feira, 13 de maio de 2008

da fome

minha mãe comeu todo o sal e açúcar que tinha no mundo. minha mãe comeu meu choro com o peito. e a despeito o choro insistiu em não ser devorado. tipo capim na pança do gado. o choro é de longe mais bravo, porque mães choram também. minha mãe comeu a solidão quando ela veio. a tristeza. os sustos. os medos. os dedos. os segredos. os cedos. até aqueles brinquedos que todo mundo tem. minha mãe comeu a despedida melancólica dos trens. minha mãe comeu o amém pois minha fome veio no meio da oração. minha mãe é um coração. dentro de mim. batendo assim: faminto.

(scapin)

Um comentário:

Anônimo disse...

Embora suspeito, este é o meu predileto!
Se bem que com tanto talento fica difícil escolher,porém, em coração de mãe sempre cabe mais muitos!
Jamais perca sua sensibilidade e poesia!
com orgulho e amor infinito, te amo sempre!