terça-feira, 9 de dezembro de 2008

sobre elisas

a rotina de um sinaleiro ficando vermelho fora quebrada um dia com um olhar. estático. mas com a profundidade cortante que somente os olhares das grandes mulheres possuem. nos encontrávamos assim. a pontualidade canônica do organizador do trânsito caótico da capital, me lançava um olhar, dias amigável, dias terno, dias revelador, dias doce, dias provocativo, mas sempre daquela mulher que por timidez ou talvez punição, não me mostrava nada além dos olhos e da pele suave da face. não me mostrava o nariz talvez porque os olhos com o nariz já tornam o ser humano passível de identificação. não me mostrava a boca talvez porque esta, além de linda, traria as inquietações e as vontades mais íntimas do ser. não me mostrava os cabelos talvez tentando esconder um de seus traços mais femininos. nada adiantava a omissão. por sorte uma avenida importante da capital me fazia parar e por isso nossos olhares se cruzavam exatos um minuto e trinta e dois segundos sob o sol impiedoso com as latarias. uma eternidade para quem observa os carros que passam na rua ortogonal. um tempo ínfimo para quem está em estado de contemplação. elisa. assim seus olhos se apresentaram no quarto ou quinto encontro. graças trocadas, carinhos de graça, doce sonhar é pensar que você gosta de mim como eu de você. por quantos um minuto e trinta e dois segundos terei que esperar até que o sinaleiro pare de vez, o trânsito entre em completo caos, que eu a tome pelas mãos e as bocas peçam aos olhos que se calem?

(scapin)

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